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Teorias da verdade

Por Samir Gorsky (baseado em DANCY, Jonanthan e ROSA, Ernest (orgs.). A companion to epistemology. Blackwell Companions to Philosophy.)

1. Introdução

Entender uma sentença é saber em quais circunstâncias ela será considerada verdadeira daí a importância das teorias da verdade para a epistemologia, em lógica um raciocínio é considerado válido quando preserva a verdade contida nas hipóteses, pronunciamentos morais são avaliados a partir de um conceito objetivo de verdade e assim por diante.

A antiga tese que assegura que a verdade seja uma correspondência entre o discurso e a realidade carece de uma articulação satisfatória. Algumas propriedades das crenças verdadeiras são compartilhadas. Crenças verdadeiras devem ser coerentes entre si, úteis (pragmática), verificáveis (em certos contextos).

A partir do século xx houve uma tendência na filosofia de não se considerar a verdade como sendo uma propriedade e sim a forma sintática do predicado.

2. Teorias tradicionais

2.1. Teoria da correspondência (formalizada por Tarski).

A sentença “a neve é branca” é verdadeira sse (se, e somente se) a neve é branca

A primeira ocorrência de “a neve é branca” está entre aspas, pois indica o nome da proposição. A segunda sentença se refere ao fato. A verdade, portanto, é a correspondência entre a linguagem e o fato (Austin, 1950 e Wittgenstein, 1922).

Os problemas referentes à teoria da correspondência são os seguintes: como é possível determinar o que é um fato? Como um fato pode corresponder a uma sentença?

2.1.1. Picture Theory

A picture theory de Wittgenstein é considerada uma boa tentativa de descrever a estrutura desta correspondência. Nesta teoria uma proposição elementar é uma organização de termos; um fato atômico é uma organização de objetos simples; a correspondência é feita entre proposições elementares e fatos atômicos e isso acontece quando suas configurações são idênticas. Neste caso os termos da proposição se referem aos objetos dos fatos e estes estão situados em lugares similares. Os valores de verdade das proposições complexas são funções dos valores de verdade das proposições simples. Todavia, mesmo que estas considerações estivessem totalmente corretas, seria necessário ainda teorias que dessem conta das proposições elementares, das configurações lógicas e da referência e estas teorias não são construtos simples.


2.2. Teorias verificacionistas

2.2.1. Teoria coerentista

Uma das principais características das teorias da verdade é que elas devem sustentar que quando uma sentença preenche adequadamente as suas condições de prova (verificabilidade ou demonstrabilidade), então ela deverá ser considerada verdadeira.

Problemas sobre a maneira correta de ser fazer a correspondência entre a sentença e o fato fazem com que certos teóricos identifiquem a verificabilidade e a verdade (Peirce, 1932). Essa idéia tomou várias formas. Uma delas parte da concepção holística de verificação, isto é, uma crença é justificada (verificada) quando faz parte de um sistema inteiro de crenças coerentes e harmoniosas entre si (Bradley, 1914 e Hempel, 1935). Assim, dizer que uma proposição é verdadeira é o mesmo que dizer que ela pode ser verificada por um procedimento adequado (Dummett, 1978; Putnam, 1981). Em matemática, esta noção identifica a verdade com a provabilidade.

Em resumo, as teorias verificacionistas tratam a verdade do ponto de vista de sua verificação e isto torna esta teoria um tanto mais simples do que a teoria da correspondência. Há, contudo, problemas a serem superados. Primeiramente parece que não há de fato a possibilidade de verificação de uma proposição somente através de sua coerência com as demais. No máximo o que se pode lucrar com tais teorias é a possibilidade de atestar proposições falsas. Uma outra dificuldade que aparece é que não havendo referência a mundo, a teoria acaba por “patinar no vazio”. A simples coerência é eleita como critério de verdade e, portanto, não há dados para se fazerem correspondências.

2.3. Teorias pragmáticas (pragmatism)

A terceira teoria da verdade é conhecida como pragmática (James, 1909; Papineau, 1987). Tal como a teoria verificacionista, a pragmatista leva em conta uma propriedade da verdade como critério último de definição da verdade. Para os pragmatistas a verdade é dada como base para boas ações. A verdade fornece subsídios para que existam certos resultados esperados das ações. Crenças verdadeiras tendem a promover o sucesso de quem as tem.

3. Teorias deflacionárias

As teorias tradicionais reconhecem que o axioma acerca do critério de verdade é insuficiente para a compreensão do conceito. O axioma aqui referido é o tradicional “a neve é branca” é verdadeira sse a neve é branca. Portanto tais teorias (tradicionais) inflacionam de alguma forma o conceito de verdade para darem conta de sua estrutura, e isso acontece, por exemplo, quando é dada a seguinte forma para que uma sentença P seja considerada verdadeira: “P é verdadeira se, e somente se, P tem a propriedade T” (esta propriedade T é portanto uma correspondência com a realidade, ou a sua verificabilidade, ou servir de fundamento para uma ação). Alguma alternativas mais radicais tentam eliminar essas características adicionais da verdade (Ramsey, 1927; Strawson, 1950; Quine, 1990) e por isso recebem a denominação de Teorias deflacionárias da verdade.

Bibliografia 1

DANCY, Jonanthan e ROSA, Ernest (orgs.). A companion to epistemology. Blackwell Companions to Philosophy. Blackwell Publishing Ltd. Oxford, UK e Malden, Massachusetts 02148, USA. 1993

Bibliografia 2

Austin, J.L.: 'Truth', Proceedings of the Aristotelian Society supp. vol. 24 (1950)

Bradley, F.H.: Essays on Truth and Reality (Oxford: Clarendon Press, 1914).

Davidson, D.: Truth and meaning', Synthese 17 (1967),

Davidson, D.: 'True to the facts', Journal of Philosophy 66 (1969),

Davidson, D.: 'Truth and meaning', Synthese 17 (1967),

Davidson, D.: 'The structure and content of truth', Journal of Philosophy 87 (1990),

Dummett, M.: Truth and Other Enigmas (Oxford: Clarendon Press, 1978).

Hempel, C.: 'On the logical positivist's theory of truth', Analysis 2 (1935),

Horwich, P.G.: Truth (Oxford: Blackwell, 1990).

James, W.: The Meaning of Truth (New York: Longmans Green, 1909).

Kripke, S.: 'Outline of a theory of truth', Journal of Philosophy 72 (1975)

Papineau, D.: Reality and Representation (Oxford: Blackwell, 1987)

Peirce, C.S.: Collected Papers vols 24 (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1932).

Putnam, H.: Reason, Truth and History (Cambridge: Cambridge University Press, 1981).

Quine, W.V.: Pursuit of Truth (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1990).

Ramsey, F.: 'Facts and propositions', Proceedings of the Aristotelian Society supp. vol. 7 (1927), 15370.

Strawson, P.: 'Truth', Proceedings of the Aristotelian Society supp. vol. 24 (1950), 12556.

Tarski, A.: 'The semantic conception of truth', Philosophy and Phenomenological Research 4 (1943), 34175.

Wittgenstein, L.: Tractatus Logico-Philosophicus (London: Routledge and Kegan Paul, 1922).

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